TV PCB Pará - Documentário sobre Raimundo Jinkings

domingo, 15 de janeiro de 2012

Coréia: Resposta de Silvio Pedro Rodrigues e Alex Lombello Amaral para o camarada Mazzeo

Coréia: Resposta de Silvio Pedro Rodrigues e Alex Lombello Amaral para o camarada Mazzeo

O artigo do Mazzeo aliada à opção do PCB em não enviar uma nota em referencia ao falecimento do líder coreano Kim Jong Il e a grande discussão veiculada nas redes sociais de relacionamento a respeito do tema traz à baila a questão dos pontos de vista diferentes, que acabam se consolidando e virando correntes dentro do Partido.


Apesar de negarmos a existência das correntes internas no Partido, sabemos da existência de inúmeras tendências. Muitas delas conflitantes entre si. Marx afirma que o capitalismo, pelas suas características, traz em seu seio a semente de sua destruição. Acredito que isso também se deu com o marxismo expressado pelas tendências cristalizadas. O socialismo marxista, logo após a morte dos dois maiores expoentes dessa ideologia/filosofia, começou a cavar a sua "sepultura". Esse fato se deu em virtude de cada liderança que esposava o marxismo ter adaptado esta ideologia para o momento em que vivia, tornando-a mais eficaz de acordo com as especificidades táticas do momento, de acordo com as peculiaridades de cada sociedade onde se desenvolvia a luta. Isso aconteceu na URSS, com o leninismo; na China com o Maoismo; em Cuba, com o foquismo, etc. Além dessas interpretações peculiares do marxismo que acabaram sendo vitoriosas em seus países, existem outras que nunca conseguiram chegar ao Poder, tais como o trotskismo, luxemburguismo, etc. Levando-se em conta que cada adaptação utilizada foi fruto da crítica às outras correntes já existentes, de que foi uma tentativa de aperfeiçoamento do marxismo, muitas das correntes criadas, desgarradas, acabaram, se tornando uma antítese do marxismo. Principalmente porque as correntes sempre disputam entre sí o epíteto de descendente direta de Marx, ou de Lenin (a interpretação que melhor se adaptou ao seu tempo), e principalmente a hegemonia na classe operária, ou do “pensamento” de esquerda. Isso faz com que elas sejam concorrentes entre si. E mais que isso. Essas correntes se comportam como inimigas. Essas disputas são tão absurdas que chegaram a ir a campos de batalha em lados opostos, como aconteceu em Angola, com Jonas Savimbi (Unita) apoiado por China e o MPLA pelos soviéticos, ou mesmo na URSS, onde “trotskystas” e “stalinistas” fizeram praticamente uma guerra civil entre si.


Mesmo na atualidade encontramos dezenas, talvez centenas de correntes pretensamente marxistas concorrendo entre si, e facilitando e perpetuando o capitalismo. Mesmo dentro de um mesmo partido encontramos diversas correntes "marxistas" (luxemburguistas, stalinistas, trotsquistas, gramcinianos, lukacsistas, titistas, etc). Esse movimento correntista já estava presente entre os revolucionários ao tempo de Lenin. Entretanto aquele Camarada tratava os divisionistas-diversionistas com a dureza necessária. Por isso o Partido tinha uma atuação mais coesa. Após a morte de Lenin várias lideranças se assanharam para assumir seu posto. E cada uma dessas lideranças tinha formulas distintas para a aplicação do marxismo à sociedade. Como não aconteceu uma hegemonia avassaladora de uma corrente sobre as outras, se perpetuou o divisionismo, este mal acabou se perpetuando até a presente data. Isso trouxe indisfarçável prejuízo à classe trabalhadora que tem atuado dividida, ou mesmo perdido a confiança de que os marxistas são seus legítimos representantes, e adotado ideologias estranhas como guias de suas lutas.

Os representantes dessas correntes, como se fossem portadores de ideologias distintas, aprofundando as divisões e diferenças, acabam repassando aos seus liderados um marxismo interpretado à luz do que pensava os seus gurus ou tentando isolar seus inimigos, como no presente caso. E essas interpretações são as mais díspares possíveis. Encontramos teóricos marxistas como Megnad Desai que entende que o socialismo só será possível depois do capitalismo esgotar suas potencialidades em todos os quadrantes do mundo, quer dizer, remete a revolução para as calendas gregas. E temos intérpretes trotsquistas e filo-trotiskistas que entendem que a revolução está na ordem do dia. Entre essas duas tendências existem outras que, por suas matrizes, valorizam mais o campesinato, o proletariado, os intelectuais, etc. Os “marxistas” se dividiram, se “especializaram”, e hoje atuam de formas diferentes e muitas vezes contraditórias. Esse diversionismo se deu porque seguidores de líderes, que interpretaram o marxismo adaptando à realidade objetiva, tentaram transplantar in totum as experiências – propostas formuladas – para a realidade brasileira, praticamente sem adequação.

Entre nós, PCB, existe ainda problemas históricos mal resolvidos, que ainda pesam fortemente sobre o Partido. O principal deles é necessário balanço histórico das experiências do socialismo real vivido no leste europeu. O Partido assumiu como verdadeiro o “relatório secreto” de Kruchev quando do XX Congresso do PCUS, e, conseqüentemente classificou o período entre o governo de Lenin e Kruchev comprometido com crimes, desmandos e ditadura. Logo após esse alinhamento ao “relatório secreto” já aconteceu entre nós os primeiros “rachas”. Apesar do PCB, nas Resoluções do XIV Congresso, assumir toda a história do movimento comunista, conforme Declaração Política do XIV Congresso: “Nascemos em 1922 e trazemos marcadas as cicatrizes da experiência histórica de nossa classe, com erros e acertos, vitórias e derrotas, tragédias e alegrias. É com esta legitimidade e com a responsabilidade daqueles que lutam pelo futuro que apresentamos nossas opiniões e propostas aos trabalhadores brasileiros” (Resoluções do XIV Congresso Nacional, pag 18). Mesmo assim ainda existem entre os militantes as resistências “naturais” a essa herança “maldita”, e ainda aqueles que admiram o período “proscrito” e o seu principal líder. Quem visitou a comunidade do Partido no Orkut sabe as batalhas “campais” que existiram ali entre “stalinistas” e “trotskystas”.

Esse esgarçamento ideológico, por óbvio, também se refletiu nas bases sociais de sustentação dos partidos comunistas. Com as constantes divisões, defecções, alienações, perseguições da direita e conseqüentes derrotas, as fileiras dos comunistas foram reduzidas drasticamente. Em proporção direta também foi reduzida a influencia dos comunistas na sociedade.

Por causa da crise por que passa a esquerda de uma forma geral, e a esquerda brasileira em especial, existe um grande descontentamento entre os militantes de esquerda, com uma grande procura de alternativas realmente revolucionárias. A esquerda institucional (PCdoB e PT, principalmente) ao se afundarem no institucionalismo, perderam o caráter reformista de esquerda e se afundam no oportunismo, na corrupção, no arrivismo. As organizações de extrema esquerda, dado o seu descompasso com a realidade, também não conseguem oferecer uma alternativa viável ao processo revolucionário brasileiro, não sendo compreendidas pelo povo. Em um quadro desses, o PCB, por sua história ímpar, e por estar se reconstruindo revolucionariamente deveria ser um desaguadouro “natural” dos egressos das outras várias organizações de esquerda que realmente anseiam por transformação radical da sociedade. E é inegável que existe uma corrente que traz ao PCB os militantes descontentes originários de outras organizações. Na maioria das vezes esses militantes nos procuram atraídos pela nossa fantástica história, pelos nossos heróis e também pela proposta racional apresentada nas resoluções do XIV Congresso.

Entretanto, o militante, ao conhecer mais o PCB, acaba se decepcionando e se afastando. Isso acontece principalmente porque o Partido, dadas as suas atuais limitações, o seu descompasso com a história, a sua falta de inserção nas massas, já não consegue se apresentar como alternativa viável de Poder Revolucionário. Como grande parte dos militantes buscam nas organizações políticas de esquerda uma espaço de luta pela conquista do Poder, da revolução, não conseguem ficar muito tempo na inatividade e decidem buscar outros rumos.

Essa paralisia existente no Partido, que o fez e faz perder espaços e militantes acontece principalmente pela falta de uma identidade precisa, uma feição característica, que possa marcar a Organização que emergiu daquela oriunda do Relatório “secreto” de Kruchev, que culminou com a diarréia de 1992 (criação do PPS).

O presente caso, Mazzeo, dirigente comunista, tratando do caso da morte do líder da Coréia do Norte, formulou crítica pejorativa ao stalinismo da mesma forma que fazem os capitalistas e trotskistas. Disse Mazzeo: “A cultura de saudar seus governantes como "seres celestiais" vem dessa tradição, não totalmente desarticulada. A própria revolução socialista não somente deixou de combater esse tradicionalismo subserviente aos poderosos, como corroborou em transformar a liderança do país, particularmente o dirigente Kim Il-Sug como o "pai celestial", a estrela gia (sic) ,etc.

O Stalinismo, a pressão imperialista acabaram corroborando para que essas distorções continuassem e fortalecessem os segmentos burocráticos mais empedernidos do partido. A dinastização do poder é uma deformação claramente burocrática. É um tipo de stalinismo de corte feudalizado ou asiatizado útil para fortalecer os setores da burocracia que hegemoniza o partido.

Essa opinião semi institucionalizada no PCB, muito parecida com as críticas formuladas pelas organizações ligadas principalmente à LIT-QI mostra uma clara divisão entre aqueles que ainda têm em Stalin uma referencia e aqueles que acham que o líder soviético, assim como seus admiradores, são figuras perniciosas ao movimento revolucionário e democrático mundial. As críticas do Mazzeo, um destacado membro do Comitê Central do PCB, aliada à falta de uma nota sobre o passamento do líder da Coréia do Norte, mostram uma posição mais sectária do que alguns trotskistas confessos. Por exemplo, as críticas produzidas pela Liga Bolchevique Internacionalista (LBI-QI) que além de publicar a opinião pública da organização, com críticas, afirmando: “A morte do dirigente stalinista foi saudada tanto pelo imperialismo como pelo amplo arco revisionista do trotskismo que comemoraram juntos o desaparecimento do "burocrata que esmagava o povo da Coreia do Norte". Pequenos grupos revisionistas que até pouco tempo fingiam serem defensistas agora se somaram descaradamente a LIT em sua cruzada "democrática" contra o Estado operário norte-coreano”. Se diferenciando dos quinta colunas a LBI se coloca na defensiva da Coréia do Norte, apesar das críticas: “ Os genuínos trotskistas da LBI e o povo norte-coreano que está de luto pelo morte de seu dirigente não tem nada a comemorar com o falecimento de Kim Jong Il, cujo regime, mesmo deformadamente, representa a ditadura do proletariado contra as investidas imperialistas lançadas desde a Coreia do Sul, responsável por defender ainda que de forma torpe as conquistas da revolução! Se a morte de Kin Jong il foi produto de um assassinato tramado pela ala restauracionista do PTC ainda mais se intensificará a pressão do imperialismo por uma "transição democrática" contrarrevolucionária, como almejam os revisionista do trotskismo não só na Coreia do Norte mas também em Cuba!”
Mazzeo, em vez de reconhecer o cerco militar, econômico e político vivido pela Coréia do Norte, em proposta parecida com aquelas feitas aos líbios pela esquerda pós-sionista, prefere “renovar e radicalizar” o socialismo: “No entanto, é bom que se diga, existe um núcleo socialista no Estado da República Popular Democrática, e é o que a mantém em pé, mesmo depois da crise econômica que se abateu sobre aquele país. É nessa força que apostamos, é em seu povo que tem consciência que sem o socialismo seria o aprofundamento da pobreza e a perda da autonomia e das conquistas realizadas pelo socialismo.

Há que se avançar, há que se renovar e radicalizar a democracia socialista na Coréia do Norte, temos esperança naquele povo heroico ... tenho certeza que o socialismo vencerá!”

O artigo do líder comunista em referencia, além de não acrescentar nada de positivo em relação à Coréia do Norte, representa a opinião de um grupo antistalinista, que de uma forma sub-liminar vem influenciando o Partido, e que deve ser debatida pelos militantes do PCB, e combatida por aqueles que defendem que o período em que Stalin esteve à frente da URSS e ainda os admiradores daquele líder merecem respeito. Se nos mantivermos calados estaremos concordando não só com o isolamento do Partido, nos termos acima expostos, mas também estaremos dando azo à continuidade desse macartismo antistalista. Se nossos problemas já não nos deixa militar a contento, como prova temos a nossa pouca influencia, vamos nos debruçar sobre eles e dar a solução mais viável.

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